Com faculdades públicas e sem vestibular, Argentina atrai cada vez mais universitários brasileiros
Instituições veem aumento da presença de estudantes do Brasil desde a crise econômica, em um movimento que já causa incômodo em alguns setores acadêmicos argentinos.
A possibilidade de estudar gratuitamente no exterior sem ter que prestar vestibulares tem atraÃdo número crescente de universitários brasileiros para as universidades argentinas - a ponto de causar incômodo em alguns setores acadêmicos do paÃs vizinho.
Nos últimos anos, a presença de estudantes brasileiros de diferentes regiões passou a ser cada vez mais frequente em cidades como Buenos Aires, La Plata e Rosario, onde estão algumas das principais universidades públicas da Argentina.
Diferentemente das universidades brasileiras, as universidades públicas argentinas não têm limites de vagas para vários cursos, incluindo os de Medicina, de acordo com a assessoria de imprensa das instituições acadêmicas. Essa facilidade de ingresso tem sido um chamariz para estudantes brasileiros.
"Nos perguntamos aqui por que tantos alunos brasileiros vieram nos últimos dois ou três anos e entendemos que o perÃodo coincide com a crise no Brasil", disse um assessor acadêmico, pedindo para não ser identificado. "Sem dúvida, o que vem ocorrendo nos últimos tempos chama a atenção", disse outro.
A Faculdade de Medicina da Universidade Nacional de La Plata (UNLP), a uma hora e meia de Buenos Aires, registrava em 2015 apenas 11 alunos brasileiros. Esse número saltou para 311 em 2017 e, neste ano, há 566 universitários brasileiros matriculados.
"As provas (de admissão) deixaram de ser exigência para todas as universidades desde o retorno da democracia, nos anos 1980. Mas, por serem autônomas, algumas delas ainda aplicavam provas", explica o reitor da Universidade Nacional de Rosário (UNR), Hector Floriani, à BBC Brasil.
Ali, dos cerca de 4 mil alunos de Medicina, 1,5 mil são brasileiros.
A UNR, assim como a Universidade de Buenos Aires (UBA), já não exigia há anos o exame de admissão, nem mesmo para o curso de Medicina.
Para facilitar a vida dos que chegam de fora, algumas universidades ainda oferecem cursos grátis de espanhol, antes de as aulas na faculdade começarem.
A brasileira Raquel Moraes, 25 anos, estudou Engenharia durante cinco anos na Universidade de BrasÃlia e decidiu passar para Medicina. Ela está no primeiro ano da Universidade de La Plata e conta que optou por Buenos Aires justamente pela gratuidade e facilidade de ingresso. "Tem muitos brasileiros estudando aqui", agrega.
Segundo o reitor, algumas famÃlias brasileiras têm achado mais vantajoso economicamente enviar o filho para uma universidade argentina, mesmo pagando passagem e estadia, do que mantê-lo em uma universidade particular brasileira. Isso apesar de o custo de vida não estar baixo na Argentina, onde a inflação deve chegar a 20% neste ano.
Em São Paulo, o ex-ministro brasileiro da Educação Renato Janine Ribeiro concorda que a gratuidade do ensino e a não existência do vestibular são os motivos que atraem os estudantes brasileiros para as universidades argentinas. "É muito difÃcil entrar para uma universidade pública (no Brasil), principalmente em Medicina, e as particulares são caras", destaca.
"Temos estudantes brasileiros de vários lugares do Brasil, como Rio de Janeiro, Mato Grosso e Fortaleza", diz o Departamento de Relações Institucionais e Admissão da Barceló.
A brasileira Rafaela Laiz, 20 anos, começou a cursar à distância o CBC neste ano e pretende se mudar de Lajinha (MG) para a Argentina em 2019, para cursar Medicina na UBA.
A UBA, escolhida por Rafaela Laiz, tem 300 mil alunos (40 mil em Medicina) - sendo 4% deles estrangeiros, liderados por brasileiros, que começaram a chegar em maior número a partir de 2016.
Os últimos dados disponÃveis apontam que mais de 60% dos brasileiros que estudam na UBA escolhem a carreira de Medicina.
O subsecretário de Assuntos Internacionais de UBA, PatrÃcio Conejero, diz à BBC Brasil que o destaque da instituição nos rankings universitários internacionais acaba atraindo estrangeiros.
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