19 de Abril de 2024 -
 
13/09/2017 - 16h50
'Eu vi Palocci mentir aqui', diz Lula a Moro
Lula disse que Palocci é
Redação
Por G1 PR
Lula no depoimento desta quarta-feira (13) (Foto: Reprodução/
Justiça Federal)

Em depoimento na Justiça Federal de Curitiba nesta quarta-feira (13), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o ex-ministro de seu governo Antonio Palocci "mentiu" em depoimento ao juiz Sérgio Moro. "Eu vi o Palocci mentir aqui", afirmou. Lula chamou o ex-ministro de "calculista e frio" e disse que Palocci só citou seu nome para reduzir alguns anos de condenação. "Fiquei com pena disso".

Na ação, Lula é acusado de receber propina da empreiteira Odebrecht por meio da compra de um terreno para a nova sede do Instituto Lula e de um apartamento vizinho ao que mora em São Bernardo do Campo (SP).

Palocci

Palocci foi interrogado por Moro nesta mesma ação na semana passada e afirmou que Lula tinha um "pacto de sangue" com o dono da empreiteira Odebrecht, que incluia um "pacote de propinas" para o ex-presidente no valor de R$ 300 milhões.

Em seu depoimento, que durou 2h10, Lula afirmou que a delação de Palocci é focada nele numa tentativa de redução de pena. "Palocci tem o direito de querer ser livre, tem o direito de querer ficar com um pouco do dinheiro que ele ganhou fazendo palestra, ele tem família, tudo isso eu acho. O que não pode é, se você não quer assumir a tua responsabilidade pelos fatos ilícitos que você fez, não jogue em cima dos outros", afirmou.

Lula disse ainda que o ex-ministro é "um simulador" e um "calculista. "Eu vi atentamente o depoimento do Palocci. Uma coisa quase que cinematográfica, quase feita por roteirista da Globo, sabe?", disse Lula. "Conheço o Palocci bem. O Palocci, se não fosse ser humano, seria um simulador. Ele é tão esperto que é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade. O Palocci é médico, calculista, é frio", afirmou.

Moro, então, perguntou se nada do que o ex-ministro disse é verdadeiro. "Nada é verdadeiro", respondeu Lula. "A úncia coisa que tem de verdade ali é ele dizer que está fazendo a delação porque quer os benefícios da delação. Ou quem sabe ele queira um pouco do dinheiro que vocês bloquearam dele", afirmou.

Sobre a menção de Palocci de que Lula cometeu obstrução de Justiça, o ex-presidente disse: "Eu não admito que ninguém diga que eu tento obstruir a Justiça. Porque eu, se não acreditasse na Justiça, eu não estaria fazendo política."

Lula afirmou não ter "raiva", mas pena, do colega de partido e ex-ministro da Fazenda do governo dele. "Eu não tenho raiva do Palocci. Eu tenho pena dele. Porque o Palocci é um quadro político excepcional do qual esse país não tem muito. Então, o companheiro Palocci vem aqui, conta uma série de inverdades, fala de um fundo, que uma hora é 300 [milhões de reais], que outra hora é 200, mas que ele não soube, que ele não estava lá, que fui eu que contei para ele."

Sobre as declarações de Lula, o advogado de Palocci, Adriano Bretas, afirmou que o ex-presidente é dissimulado e que a lógica dele é dizer que os que o acusam mentem.

Apartamento

Lula afirmou que não pediu a ninguém a compra do apartamento vizinho ao seu em São Bernardo do Campo. Ele também negou ter participado do contrato de locação do imóvel e disse que o local era usado por seguranças e também para reuniões políticas.

Lula disse que "deve ter" o recibo de pagamentos do aluguel do apartamento. "O recibo não fica comigo, mas isso pode ser pego e enviado", afirmou. Questionado pelo Ministério Público se o ex-presidente não achava relevante apresentar os recibos, Lula, orientado pelo advogado, não respondeu.

O ex-presidente relatou que, quando o dono do apartamento faleceu, ele não manifestou preocupação de que o imóvel fosse adquirido por um terceiro. Segundo Lula, ele ficou sabendo que o Glaucos da Costamarques [acusado de ser laranja na transação] havia comprado o imóvel quando foi estabelecido contrato de locação com a dona Marisa [ex-mulher de Lula, já falecida].

Terreno

Lula disse que visitou o terreno que é objeto da denúncia uma única vez, mas, segundo ele, achou "inadequado". "Isso aqui não é uma zona que pode frequentar muita gente. Nós vamos procurar em outro lugar", disse Lula. Outros lugares também foram visitados, segundo ele.

Doações da Odebrecht

Lula também foi perguntado sobre as doações de R$ 4 milhões da construtora Odebrecht para o Instituto Lula entre 2013 e 2014. "Eu já respondi, mas vou responder outra vez: a Odebrecht não tinha que pedir a opinião do Lula para fazer doação, porque o Lula não é diretor do Instituto Lula. Se ela fez alguma doação, ela está contabilizada no instituto”, afirmou.

Questionado se o valor foi propina da Odebrecht para o governo do PT, Lula disse: "Essa é a peça de ficção mais hilariante que eu ouvi na fala do Palocci. Eu, sinceramente, não sei qual era a relação de Palocci com Marcelo Odebrecht. Os dois têm mais de 35 anos, tem autonomia, conversavam e nunca me pediram para conversar. Se tinha fundo ou não tinha fundo, o doutor Palocci que explique", disse.

Imparcialidade

No final do depoimento, Lula questionou a imparcialidade de Moro e foi repreendido pelo juiz, que então encerrou o depoimento. O ex-presidente perguntou: "Eu posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que eu vim a Curitiba prestar depoimento a um juiz imparcial?"

Moro o repreendeu pela pergunta, mas respondeu: "Primeiro, não cabe ao senhor fazer esse tipo de pergunta pra mim, mas, de todo modo, sim." Lula então diz, em referência à condenação em primeira instância pelo triplex do Guarujá: "Porque não foi o procedimento na outra ação, doutor".

Moro rebateu: "A minha convicção foi de que o senhor foi culpado. O senhor apresente as suas razões no tribunal". O magistrado então terminou o interrogatório.

Ministério Público

O ex-presidente acusou o Ministério Público de promover uma caça às bruxas com ele. "O objetivo é encontrar alguém para me criminalizar. Só quero dizer que há uma caça às bruxas. Eu fiquei muito preocupado com a delação do Palocci. Porque ele poderia ter falado 'eu fiz isso de errado, eu fiz isso'. Ele: 'não é que sou santo, e pau no Lula', que é uma jeito de você conquistar veracidade na sua frase. Eu fiquei com pena disso."

O ex-presidente disse que vai provar ser inocente e espera um dia receber desculpa do MPF. "Eu poderia ficar zangado, nervoso, mas eu quero enfrentar o Ministério Público, sobretudo a força-tarefa, para provar minha inocência. Eu só espero que eles tenham grandeza de um dia pedir desculpa".

Interrogatório

O interrogatório do ex-presidente na Operação Lava Jato terminou por volta das 16h20, depois de 2 horas e 10 minutos de depoimento, na sede da Justiça Federal, em Curitiba. Outro réu, o ex-assessor do ex-ministro Antonio Palocci, Branislav Kontic, foi interrogado logo depois de Lula.

Logo no início do interrogatório, Lula afirmou que queria falar. Na condição de réu, ele poderia optar por ficar em silêncio. "Apesar de entender que o processo é ilegítimo e injusto, eu pretendo falar. Talvez eu seja a pessoa que mais queira a verdade neste processo", afirmou o ex-presidente.

Em uma das ocasiões em que deu a palavra para Lula, Moro afirmou que não era hora de "discurso de campanha". "O senhor gostaria de dizer alguma coisa ao final, Sr. ex-presidente? Só assim, senhor presidente [levanta a voz]: não é momento de campanha, não é momento de discurso, é para falar do objeto da acusação, se for o caso. Certo?"

Acusação

Esta é a segunda vez que Lula presta depoimento como réu em um processo da Lava Jato conduzido por Moro. A acusação é sobre um suposto pagamento de propina por parte da construtora Odebrecht.

Segundo a denúncia, a empresa comprou um terreno para a construção de uma nova sede para o Instituto Lula. A empreiteira também teria comprado um apartamento vizinho ao que o ex-presidente mora, em São Bernardo do Campo (SP). O imóvel é alugado desde 2002 e abriga, principalmente, os seguranças que fazem a escolta de Lula.

No caso anterior, quando Lula foi ouvido por Moro pela primeira vez como réu, ele era acusado de receber R$ 3,7 milhões em propina, de forma dissimulada, da empreiteira OAS. Em troca, ela seria beneficiada em contratos com a Petrobras. O ex-presidente acabou condenado naquela ação penal a nove anos e meio de prisão.

Ex-presidente Lula recebe apoio de aliados antes de depor a Moro
em Curitiba nesta terça-feira (13) (Foto: Heuler Andrey/AFP)

Entenda a denúncia

Segundo o MPF, os dois imóveis fazem parte de um total de R$ 75 milhões em propinas que foram pagas pela Odebrecht a funcionários da Petrobras e políticos, após a empreiteira firmar oito contratos com a estatal. De acordo com a denúncia, a parte de Lula foi repassada com a intermediação do ex-ministro Antonio Palocci e do assessor dele, Branislav Kontic.

O imóvel que seria para o Instituto Lula fica em São Paulo, na Rua Haberbeck Brandão. O MPF afirma que o terreno foi comprado pela Odebrecht, usando o nome de outra empreiteira, a DAG. Apesar das negociações terem sido feitas e a DAG ter adquirido o imóvel, nada foi construído no local.

Já a compra do apartamento, de acordo com a denúncia, foi realizada com o auxílio de um parente do pecuarista José Carlos Bumlai. Conforme o MPF, Glaucos da Costamarques serviu de "laranja" para adquirir o imóvel para Lula, já que o apartamento era alugado desde que ele chegou à Presidência.

Ao todo, oito pessoas foram denunciadas: Lula, Palocci, Kontic, Paulo Melo, Demerval Galvão, Glaucos da Costamarques, Roberto Teixeira e Marcelo Odebrecht. A ex-primeira-dama Marisa Letícia também constava na denúncia, mas teve o nome retirado após a morte dela.

Desde que foi denunciado, Lula tem negado o recebimento de propinas e o favorecimento da Odebrecht. A defesa diz que o MPF não tem provas que sustentem a denúncia.

Fase final

Após os depoimentos de Lula e de Kontic, o advogado Roberto Teixeira também deve ser ouvido. O depoimento dele já deveria ter ocorrido, mas a data foi adiada, depois que ele foi internado em São Paulo, com insuficiência cardíaca. A nova data está marcada para o dia 20 deste mês.

Depois do depoimento de Teixeira, o processo chegará à fase final. O MPF e as defesas poderão pedir as últimas diligências. Caso isso não ocorra, o juiz determinará os prazos para que as partes apresentem as alegações finais.

Em seguida, os autos voltam para Moro, que vai definir a sentença, podendo condenar ou absolver os réus. Não há prazo para que a sentença seja publicada.

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